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bate-papo no corredor…

Como a Copa do Mundo de 2014 será realizada aqui, e as Olimpíadas de 2016 também, as repartições públicas cariocas já se preparam pra enforcar o ano de 2015.


e fevereiro que não chega logo…

A estranheza do olhar antropológico estrangeiro diante do carnaval carioca

A sociedade brasileira é extremamente influenciada pela igreja católica e seus preceitos. Tal influência é notada na relação pessoal que os devotos têm com os santos – são prometidos três pulinhos a são Longuinho (apelido “carinhoso” para Longino, aproximando-se o que é longínquo) caso um objeto desaparecido seja encontrado; põe-se uma imagem de sto. Antônio de ponta cabeça, e dessa posição só é retirada caso a moçoila arranje casamento – e, mais acentuada e contraditoriamente, na forma como se relaciona com o período anterior à quaresma, época de privações do calendário católico: o carnaval.

É a mistura do sagrado e do profano. O período do carnaval, o “adeus à carne”, é marcado justamente pela prática do que será condenado pela igreja após a quarta-feira de cinzas. Em observância aos preceitos cristãos, mulheres seminuas cobrem-se com tapas-sexo, ou nem isso; consome-se muito álcool, e embriagados pela substância e pelo ritmo do samba – música contagiante e sensual – seus participantes dançam em coreografias sugestivas; conceitos morais como o casamento, castidade, pudicícia são momentaneamente (?) esquecidos, afinal, é carnaval, e “tudo é permitido”.

Nesse tempo de farra liberada e legitimada pela tradição eclesiástica, contudo, há restrições. “Se beber, não dirija”, recomendam as autoridades de trânsito, de olho nos acidentes que aumentam significativamente em número durante a farra de Momo. “Use camisinha”, pregam os agentes de saúde pública, preocupados com as DST’s que oneram os cofres públicos. Em contradição, a igreja condena o uso do preservativo e o sexo antes do casamento…

Diante de uma mulata estonteante, passista do Salgueiro e de parar o trânsito (“Se beber não dirija: não corra o risco de atropelar essa obra divina…”) o nativo católico tupiniquim se vê numa encruzilhada moral e religiosa. Desfrutar dos prazeres da carne, ou ser um bom cristão?

No Brasil o cânone é relativizado, e o bom malandro sempre dá um jeito de conseguir o que quer. A solução se apresenta no meio termo entre cair por completo na farra e ir à missa não só na quaresma como na quarta-feira de cinzas e o período que a antecede. Parece slogan publicitário, mas condensa as mensagens que tratam da postura que se espera do folião em meio às premissas conflitantes – não prove; prove, mas não saboreie; saboreie, mas não engula; engula, mas não se esqueça de agradecer a deus pelo que come… -: “Aprecie com moderação”.