“Com certeza.”
A expressão me incomoda deveras, e a ouço com mais freqüência do que gostaria.
O que há de certo, afinal? Desconheço. “A morte”, diria alguém afeito a máximas e ditos populares, provavelmente temente a deus – e à morte.
Questionável, também. Qualquer biólogo afirmaria que a morte de um é a vida de outro, que a troca de energia permanece no pós-vida e que tudo está, em maior ou menor grau, interligado por meio de conexões rizomáticas infinitas e, por extensão, incertas.
A certeza da morte só se aplica à vaidade do ego. Ela – a morte (acho de bom tom tratá-la de um modo familiar, intimista, personificando-a. Fomenta a boa vontade na leitura destas linhas entre aqueles que a temem. O medo é diretamente relacionado ao desconhecido) – é certa em sua inevitabilidade para com os seres enquanto indivíduos, porém incerta na medida em que se analisa o porvir, o além-túmulo.
O certo é incerto.
Melhor aceitar a efemeridade do que nos cerca, admitir a nossa transitoriedade pessoal, embora transferível, e seguirmos em frente. Para onde, impossível saber.
Proponho a troca de com certeza por talvez, quem sabe?, quiçá, porventura. Possibilidades em aberto, mas sem cair na falácia do se deus quiser, cláusula pétrea do comodismo.
Cogite o impensável, admita o inimaginável. É uma postura diante da vida, antes que uma filosofia. Um sorvete cujo sabor você nunca experimentou, tangerina com macadâmias, abricó com umbú. Um caminho diferente na volta do trabalho. Mais longo, porém mais agradável. Um novo enfoque, um novo approach, um viés revolucionário. Quantas invenções, quantas descobertas daí adviriam, a cura do câncer, a reinvenção da roda, a descoberta de vida extraterrestre, quem sabe?
Pense nisso quando se deparar com um flerte improvável, ou um convite inesperado. “Que tal um cineminha?”, ou um olhar encontrado em meio à multidão. Uma viagem, um vestido, plantar uma árvore, ter um filho, casar, namorar, ficar, andar de bicicleta. Um sonho, por mais que pareça distante, é tangível a ponto de se materializar em nossos devaneios.
Apenas evite o cuspe pro alto em forma de ‘com certeza’.
Experimente. Ouse. Tente alguns ‘com cerveja’ como recurso estilístico. Ou ‘com cereja’, por que não?
O impreciso é preciso.